O diagnóstico em psicanálise

O diagnóstico em Psicanálise é essencialmente distinto do diagnóstico na Psicologia e na Medicina, enquanto estas disciplinas operam dentro de uma teoria da doença nosos, a Psicanálise trabalha no campo do sofrimento, pathos. O pathos, ao contrário da doença, refere-se ao sofrimento, à paixão, à atividade, à passividade e à transformação. Dessa maneira, a Psicanálise se diferencia da clínica médica, que é nosográfica ou nosológica.

Quando abordamos a clínica psicanalítica, estamos nos referindo ao acolhimento dos pacientes, ao manejo do sofrimento e à interpretação e transformação do pathos. Freud teve um olhar distinto sobre a clínica médica de sua época ao transitar de uma clínica do olhar (médica) para uma clínica da escuta (psicanalítica), reinventando a semiologia e subvertendo a noção de diagnóstico.

O Diagnóstico Psicanalítico

Para a Psicanálise, o diagnóstico não deve categorizar e patologizar os sujeitos. Ele é visto não só como uma função classificatória, mas também como uma função geral da linguagem que se exprime pela nomeação do sofrimento. Toda nomeação do sofrimento envolve uma análise crítica e Freud desenvolveu essa abordagem por meio da psicanálise.

A percepção do pathos na Psicanálise condiciona a racionalidade das experiências de sofrimento dos sujeitos, vistas como aspirações bloqueadas ou negadas de reconhecimento. O diagnóstico serve para atuar, não apenas para representar, e pode abranger três dimensões:

  1. a do sintoma, onde se fixa uma semiologia,
  2. a do mal-estar e
  3. a do sofrimento, convocando a problemática da causalidade.

O diagnóstico em Psicanálise segue uma lógica distinta do modelo cartesiano e positivista, pois seu objetivo não é produzir um conhecimento universal e replicável baseado em evidências. A leitura diagnóstica em Psicanálise é desconstrutiva e visa promover a transformação e a mudança na relação do sujeito com o que ele faz, diz e deseja.

Instrumentos do Diagnóstico Psicanalítico

A única técnica de investigação disponível ao analista é a escuta. A avaliação do psicanalista é subjetiva, sustentada pelo discurso do paciente e pela subjetividade do próprio analista. O psicanalista mobiliza sua escuta, solicitando ao sujeito que fale livremente sobre os motivos que o levaram a procurar a Psicanálise.

Permitir que o paciente fale à vontade é crucial, pois as especificidades dos processos inconscientes não podem ser observadas diretamente sem a participação ativa do paciente através de suas palavras. A investigação da queixa do sujeito sempre vai além do sintoma, buscando decifrar o conteúdo inconsciente.

Para a Psicanálise, o sintoma apresenta um conteúdo significante que revela mais do que parece de imediato. O sintoma opera como uma metáfora através da substituição significante e o diagnóstico deve ser buscado no registro do simbólico, onde estão articuladas as questões fundamentais do sujeito sobre sexo, morte, procriação e paternidade.

O diagnóstico diferencial estrutural é feito a partir do simbólico, considerando os três modos de negação do Édipo – a negação da castração do Outro – que correspondem às três estruturas clínicas.

  1. estrutura neurótica
  2. estrutura psicótica
  3. estrutura perversa

Consideração

A distinção entre a clínica psicanalítica e a clínica médica reflete diferentes abordagens para compreender e tratar o sofrimento humano. Enquanto a medicina busca categorizar e tratar doenças com base em evidências objetivas, a Psicanálise se aprofunda nas experiências subjetivas dos indivíduos, oferecendo um espaço para a expressão e transformação do sofrimento. Essa abordagem única destaca a importância da escuta, da interpretação e da transformação do pathos na busca pelo bem-estar psíquico.

 

por Leonid R. Bózio
inverno de 2024, anno Domini

Sugestão de leitura:

Diagnóstico Psicanalítico: Entendendo a Estrutura da Personalidade no Processo Clínico de por Nancy McWilliams

As 4+1 condições da análise  por Antonio Quinet

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