Flores Noturnas: Identidade, Medo e Máscaras na Terapia em Grupo
O grupo: escuta, metáforas e elaboração – Máscaras na Terapia em Grupo
No dia 7 de maio de 2025, realizamos o terceiro encontro do nosso Grupo de Terapia Online para Mulheres. Como gesto inaugural de apresentação, cada participante escolheu uma flor para falar de si. Optamos aqui por manter o anonimato das mulheres, referindo-nos a elas apenas pelas flores que evocaram. Essa escolha não é mero disfarce, mas prolongamento simbólico da escuta psicanalítica: a flor como cifra do desejo, o nome botânico como enigma do sujeito.
A Dama da Noite, nova participante, abriu o encontro: flor exótica que floresce enquanto o mundo adormece, com perfume marcante e noturno. Foi plantada na casa que seus pais levaram quatro anos para construir — memória de espera e superação. Ela mesma se vê como alguém da noite: lugar onde o silêncio permite sentir. A Flor de Pitangueira e a Lótus, participantes do grupo desde o início, fora apresentadas no artigo: Quem sou eu hoje?
Três flores, três narrativas: entre perfumes, raízes e reinvenções, cada uma encontrou uma forma de se dizer — e de se escutar.
Medo de fracassar: quando a queda parece definitiva
Ao longo da conversa, surgiu um ponto de convergência: o medo do fracasso. Não o fracasso comum, mas aquele que ameaça desestruturar por completo; como se errar fosse perder-se de si, cair num vazio sem retorno. O que mais pesa, muitas vezes, não é a falha em si, mas o olhar do outro: aquele que julga, exige, cobra.
Falamos dos padrões de excelência — muitos herdados de contextos exigentes ou instáveis — que geram um ideal inatingível. Manter-se “acima da média” torna-se uma forma de defesa: o afeto, nesses casos, foi condicionado ao bom desempenho.
Também tocamos no medo de voar: arriscar exige base, e quando nunca houve estabilidade, o novo é ameaça, não promessa. O desconhecido reativa memórias inconscientes de abandono, fazendo com que a segurança pareça inalcançável.
O que não se pode dizer: histórias que ainda ferem
Em seguida, partimos de uma pergunta delicada: Quando penso em mim mesma hoje, qual parte da minha história ainda tento esconder ou reinventar? Houve silêncio. Depois, palavras: pais ausentes, feridas abertas, buscas por perdão, histórias ainda sem voz.
A dor do abandono atravessou todas. E com ela, a descoberta de que, às vezes, se abandona para não ser abandonada. É um movimento defensivo, inconsciente, que afasta antes que doa.
Há cenas internas que se repetem mesmo quando queremos seguir adiante. Freud chamou isso de compulsão à repetição: o retorno do que não foi simbolizado, que retorna sob a forma de sintoma ou impasse.
As máscaras que nos foram impostas
Máscaras na Terapia em Grupo : Fechamos o encontro com uma questão essencial: Que “máscara” precisei vestir para sobreviver em minha família ou relacionamentos? E o que existe por trás dela, que talvez ainda não pude mostrar?
As respostas trouxeram papéis assumidos cedo demais, imagens de força forjada na dor, estratégias para manter vínculos difíceis. A máscara, nesses casos, não é falsidade: é sobrevivência. Mas há um preço — renunciar ao desejo próprio, viver em função de expectativas alheias.
Por trás da máscara, há sempre um rosto esperando ser reconhecido, visto sem pressa, escutado sem censura. E é esse rosto que o grupo convida a emergir, no tempo e no ritmo de cada uma.
O filme como espelho: Volver e a fala que retorna
Para este encontro, escolhemos o filme Volver (2006), de Pedro Almodóvar, como elemento simbólico de apoio ao processo terapêutico. A obra aborda temas como maternidade, segredos familiares, fantasmas do passado e a força das mulheres diante de traumas e silêncios herdados. Sua estética intensa e sua narrativa circular tocam, com delicadeza e crueza, muitos dos afetos compartilhados durante o grupo.
Você pode ler a análise completa do filme no nosso blog: filme Volver e também acessar o fórum de discussão da atividade proposta às participantes. Se você deseja participar dos próximos encontros, entre em contato conosco: há sempre um lugar à escuta, onde a palavra pode germinar como flor no escuro.
Considerações: Máscaras na Terapia em Grupo
A cada encontro, a psicanálise nos ensina que não há identidade sem história, e não há história sem marcas. As flores escolhidas neste terceiro encontro não foram apenas metáforas poéticas: foram vestígios do desejo, pistas do que ainda quer se dizer. Ao nomear medos, revisitar dores e tirar lentamente as máscaras, cada mulher começa a dar forma simbólica àquilo que um dia foi sintoma. Eis o trabalho silencioso da psicanálise e terapia em grupo.
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por Leonid R. Bózio
Brasília, de 2025 anno Domini