O termo Kidult tem se destacado nas discussões culturais e psicológicas; essa junção das palavras “kid” (criança) e “adult” (adulto) descreve adultos que mantêm interesses e comportamentos típicos de crianças. Esse fenômeno cultural se manifesta em diversas áreas, como brinquedos, jogos, filmes e até moda. Os Kidults são frequentemente atraídos por produtos que evocam nostalgia, como brinquedos de sua infância, séries animadas e videogames que marcaram uma geração. Mas o que motiva esse comportamento e como a psicanálise o interpreta?
O Fenômeno Kidult sob a Perspectiva Psicanalítica
A psicanálise oferece um caminho compreender o fenômeno Kidult. O desenvolvimento psíquico envolve a transição do princípio do prazer para o princípio da realidade; essa mudança requer a renúncia a desejos infantis e a aceitação das limitações impostas pela vida adulta, mas, em uma sociedade marcada pelo consumismo e pela idealização da juventude, muitos adultos buscam refúgio na nostalgia da infância; um período percebido como livre de responsabilidades e repleto de prazer imediato.
Esse comportamento pode ser interpretado como uma tentativa de resgatar aspectos reprimidos da psique; os Kidults frequentemente se reconectam com partes de si mesmos que foram suprimidas em prol das exigências sociais, assim, esse fenômeno pode funcionar como um mecanismo de defesa contra a angústia existencial; ou como uma estratégia para preencher um vazio emocional.
Kidult e o Superego: Entre a Crítica e a Complacência
O superego, instância psíquica que regula a moral e a censura, desempenha um papel nessa dinâmica, pois muitos Kidults enfrentam críticas internas e externas por adotarem comportamentos considerados “infantis”; enquanto outros, com superegos mais flexíveis, encaram essa vivência de forma leve e criativa. É importante notar que a linha entre o prazer lúdico e a evasão da realidade é tênue; especialmente quando esses comportamentos interferem na capacidade de lidar com as responsabilidades da vida adulta, como compromissos financeiros e relacionamentos interpessoais.
O Mercado e a Cultura Kidult
A indústria percebeu no Kidult uma oportunidade lucrativa; adultos são o público-alvo de coleções de luxo de brinquedos, séries nostálgicas e jogos que recriam cenários da infância. Esse fenômeno reflete não apenas desejos individuais, mas também a força de uma cultura que valoriza o consumo como forma de identidade. Para a psicanálise, isso pode ser visto como uma manifestação do “mal-estar na civilização”; onde o prazer imediato busca mascarar a angústia e o vazio existencial, sem proporcionar uma verdadeira elaboração emocional.
Kidult: Sintoma ou Expressão Criativa?
Na pratica psicanalítica evitamos julgamentos moralizantes, e se buscamos a investigar o significado mais profundo de cada fenômeno. Para alguns, ser Kidult pode ser uma forma saudável de integrar diferentes aspectos da identidade; encontrando na fantasia e no lúdico uma válvula de escape criativa. Para outros, pode ser um sintoma de dificuldades em enfrentar os desafios próprios da vida adulta; uma resistência que merece atenção em um processo terapêutico.
Considerações
O fenômeno Kidult nos convida a refletir sobre os desafios do amadurecimento em tempos modernos; onde as fronteiras entre infância e idade adulta se tornam cada vez mais difusas. Não é uma questão de julgar esse comportamento como certo ou errado; mas compreender o que ele revela sobre os desejos, angústias e estratégias de enfrentamento de cada indivíduo. Seja como forma de expressão ou como um apelo à reflexão, o Kidult destaca a complexidade do ser humano; lembrando-nos de que, mesmo ao brincar, somos sujeitos influenciados por histórias, contextos e pelo inconsciente.
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por Leonid R. Bózio
Brasília, no fim do primeiro mês de 2025 anno Domini