Pulsão em Freud

Pulsão em Freud: O termo “pulsão” foi introduzido nas traduções das obras de Sigmund Freud para diferenciar-se do conceito de “instinto”. Nas literaturas freudianas, ambos os termos aparecem com significados distintos. Este artigo visa explorar e esclarecer o conceito de pulsão conforme definido por Freud, destacando suas diferenças em relação ao instinto e suas implicações na teoria psicanalítica.

Pulsão vs. Instinto

Freud utilizava o termo “instinto” (Instinkt) para se referir ao comportamento animal, hereditário e característico da espécie. Já a “pulsão” (Trieb) é um conceito mais complexo, relacionado à impulsão. Para Freud, uma pulsão tem sua origem em uma excitação corporal (estado de tensão), seu objetivo é suprimir esse estado de tensão e é através do objeto que a pulsão atinge sua meta.

Definição de Pulsão

A pulsão é um processo dinâmico que consiste em uma pressão ou força (carga energética) que faz o indivíduo tender para um objetivo específico. É considerada um conceito-limite ou fronteiriço, pois marca a intersecção entre o somático e o psíquico. Embora a pulsão possa ser comparada ao instinto pela ideia de tendência ou ímpeto a agir, ela se distingue por ser uma fonte de energia psíquica não específica, que pode conduzir a diversos comportamentos.

As Três Dimensões da Pulsão

Freud define a pulsão em três níveis:

  1. Pulsão como representante psíquico dos estímulos corporais: A pulsão atua como um representante psíquico (psychischer Repräsentant) dos estímulos provenientes do corpo.
  2. Pulsão como medida da exigência de trabalho imposta ao psíquico: É a medida da exigência de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corporal.
  3. Pulsão como conceito-limite: Define os contornos do campo psíquico frente ao somático.

Dualidade das Pulsões

Freud introduziu a ideia de dualidade das pulsões, inicialmente entre pulsões sexuais e pulsões do ego ou de autoconservação. Com o tempo, essas categorias evoluíram para pulsões de vida (Eros) e pulsões de morte (Thanatos).

Pulsões de Vida: Eros

As pulsões de vida, ou Eros, estão associadas ao amor, desejo e atração sensual. Elas tendem a constituir e manter unidades cada vez maiores. Segundo Marcuse, em “Eros e Civilização”, o Eros é a pulsão libidinal que motiva o indivíduo a viver e buscar a civilização e convivência coletiva.

Pulsões de Morte: Thanatos

As pulsões de morte, ou Thanatos, tendem à autodestruição e, secundariamente, à destruição externa, manifestando-se como agressão. Elas buscam reduzir as tensões ao mínimo, reconduzindo o ser vivo ao estado anorgânico. A pulsão de morte representa a morte simbólica ou material perante a sociedade.

Considerações

Freud sugere que o indivíduo possui dentro de si tanto a pulsão de vida quanto a pulsão de morte. A pulsão de vida leva o indivíduo a buscar satisfação e prazer, enquanto a pulsão de morte o impulsiona em direção à autodestruição ou agressão externa. O equilíbrio entre essas forças é mediado pelo ego, que substitui o princípio do prazer pelo princípio da realidade.

O conceito de pulsão é fundamental na teoria psicanalítica, destacando a complexidade dos impulsos internos que direcionam o comportamento humano. Ele difere do instinto por não ser ligado a comportamentos preestabelecidos, mas sim a uma energia psíquica que pode se manifestar de diversas formas.

Leonid R. Bózio

Brasília, inverno de 2024 anno Domini

Leave a Comment