A teoria do afeto, assim como a teoria das pulsões, passou por várias transformações ao longo do tempo. Freud desenvolveu três modelos diferentes de afeto, com ênfase especial no afeto da angústia, que ele considerava central para a compreensão de toda patologia.
No primeiro modelo de Freud, o foco estava no papel do afeto em eventos traumáticos. Ele sugeria que o afeto liberado pelo trauma, quando bloqueado em sua descarga, era o responsável pela formação dos sintomas. Posteriormente, ele ampliou essa ideia, afirmando que a angústia poderia ser resultado de um conflito entre a libido, que busca gratificação, e a inibição desse impulso — como observado na neurose de angústia.
Com o desenvolvimento do modelo estrutural da psique, Freud revisou a teoria do afeto para incluir o conceito de ansiedade-sinal. Esse modelo enfatizava o valor adaptativo do afeto, que atuaria como um alerta ao ego diante de perigos iminentes, sejam eles internos (impulsos) ou externos (traumas), mobilizando mecanismos de defesa. Essa função sinalizadora dos afetos foi posteriormente estendida pela psicologia do ego a outros sentimentos, como tristeza, nojo, raiva e culpa. Além disso, essa escola explorou a relação entre afeto e imaginação, distinguindo formas de experiência emocional e mais cognitivas, assim como os afetos inconscientes, que podem ser etiologicamente relevantes para o desenvolvimento de sintomas psicológicos e psicossomáticos.
A teoria das relações objetais deu destaque à função interativa dos afetos, mostrando que eles também desempenham um papel fundamental no início das relações interpessoais e na regulação das interações entre sujeito e objeto.
Atualmente, a compreensão do afeto se apoia em modelos de componentes de afetividade, que veem o afeto como um processo holístico, composto por várias dimensões. Um exemplo é o modelo de seis componentes proposto por Rainer Krause, que subdivide o sistema afetivo em:
- Componente expressivo: expressão mímica e gestual do afeto;
- Componente fisiológico: respostas endócrinas e neurais associadas ao afeto;
- Componente motivacional: inervação dos músculos esqueléticos;
- Percepção consciente: a experiência consciente do afeto;
- Nomeação linguística: o processo de dar nome à experiência emocional;
- Percepção do afeto como imagem interna: interpretação do afeto no contexto situacional e nos significados do mundo e dos objetos.
Esses componentes se desenvolvem de forma assíncrona ao longo da vida e estão sujeitos a falhas em diferentes níveis.
Como os afetos operam em uma velocidade superior à dos processos de pensamento racional, eles podem ser vistos como uma forma de avaliação filogeneticamente mais antiga e holística de nossas experiências. Dessa maneira, os afetos funcionam como uma interface entre os níveis psicológico, biológico e social, e por isso ocupam uma posição central na teoria e prática da psicanálise. Essa relação íntima entre afeto e cognição também facilitou a integração de teorias de desenvolvimento cognitivo, como as de Piaget, com o desenvolvimento afetivo, uma conexão amplamente explorada na psicanálise contemporânea (Ulrich Moser).
Leonid R. Bózio
Brasília, inverno de 2022 anno Domine