Os sintomas histéricos: conversão somática da energia psíquica

Em “As neuropsicoses de defesa” (1894a), Freud toma a histeria como modelo e avança além de seus antecessores, que se limitaram a considerar a dissociação observada nos histéricos como causa primária dos sintomas, termo denominado “clivagem de consciência” por Janet e “estado hipnóide” por Breuer. Freud formula suas próprias hipóteses, demonstrando que a dissociação não é espontânea; ao contrário, o paciente ativamente produz esse estado por um “esforço de vontade”.

A dissociação histérica pode ocorrer em uma pessoa previamente “em bom estado de saúde psíquica” (p. 3 [5]) e manifesta-se quando ela é subitamente confrontada com “representações” intoleráveis que despertam “afetos” dolorosos que deseja “esquecer”: “A pessoa decidiu esquecer a coisa por não ter força para resolver mediante o trabalho de pensamento a contradição entre essa representação inconciliável e seu ego” (p. 3 [5]).

Como o ego consegue “esquecer” essas representações intoleráveis? Freud responde que o ego tenta atenuar a força dessas representações com um objetivo de defesa – daí a denominação “neuropsicoses de defesa” – sem, contudo, conseguir suprimi-las completamente. A excitação residual ressurge então sob a forma de sintomas patológicos e, no caso da histeria, essa excitação é convertida em sintoma somático: “A soma de excitação é reportada no corporal, processo para o qual eu proporia o nome de conversão” (p. 4 [7]).

Freud demonstra, assim, que os sintomas das neuropsicoses são a expressão de um distúrbio situado no nível psíquico e que não resultam de uma “degenerescência” pessoal ou hereditária, como se acreditava anteriormente. Sua hipótese explica também a reversibilidade do processo e o efeito terapêutico: “A ação do método catártico de Breuer”, diz ele, ”consiste em provocar intencionalmente o retorno da excitação do corporal no psíquico, a fim de obrigar a que a contradição seja regulada pelo trabalho de pensamento e a excitação descarregada pela palavra” (p. 5 [8]).

 

– “Les psychonévroses de défense” (1894a)
– “Nouvelles remarques sur les psychonévroses de défense (1896b), in Névrose, psychose et perversion,
trad. J. Laplanche, Paris, PUF, 1973, p. 1-14 e p. 61-81

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