Freud – A interpretação dos Sonhos, Capítulo 1: (F) O sentido moral nos sonhos

Freud – A interpretação dos Sonhos, Capítulo 1:

(F) O sentido moral nos sonhos

Resumo:

No texto “O sentido moral nos sonhos”, Freud examina se e até que ponto as inclinações e os sentimentos morais se estendem até a vida onírica. Ele discute duas perspectivas opostas: uma que acredita que os sonhos são moralmente indiferentes e outra que sustenta que o caráter moral do indivíduo se manifesta nos sonhos.

A primeira perspectiva, defendida por autores como Jessen, Radestock e Volkelt, sugere que a moralidade não tem lugar nos sonhos. Eles argumentam que a consciência moral se silencia durante o sono, permitindo que a pessoa cometa atos imorais sem remorso ou piedade. Por exemplo, crimes como roubo e assassinato são realizados com indiferença nos sonhos.

Por outro lado, a segunda perspectiva, apoiada por Schopenhauer, Fischer e Haffner, afirma que o caráter moral do indivíduo persiste nos sonhos. Estes autores argumentam que os sentimentos e anseios morais se refletem na vida onírica, mantendo a distinção entre o bem e o mal mesmo durante o sono.

Freud observa que ambos os grupos acabam reconhecendo a origem psíquica dos sonhos imorais, embora se esforcem para explicar esses sonhos de maneira que se alinhe com suas crenças sobre a moralidade. Aqueles que acreditam na moralidade onírica evitam assumir total responsabilidade por seus sonhos, argumentando que, embora os sonhos possam refletir impulsos imorais, estes são suprimidos na vida de vigília.

Hildebrandt, por exemplo, sugere que os sonhos revelam impulsos que passam pela mente durante o dia e que são inibidos pela consciência moral. Ele acredita que os sonhos podem fornecer insights sobre as profundezas da natureza humana, mostrando impulsos que permanecem ocultos durante o estado de vigília. A visão de Hildebrandt é que os sonhos imorais têm uma origem psíquica específica e podem atuar como um alerta para fraquezas morais.

No entanto, outros autores, como Jessen e Maury, veem os sonhos como um fenômeno automático, onde os impulsos imorais não refletem necessariamente o caráter do sonhador. Maury, por exemplo, descreve os sonhos como um estado onde o indivíduo se revela em sua nudez moral, agindo sem a restrição da vontade consciente.

Freud conclui que, independentemente das diferenças nas opiniões, há um consenso de que os sonhos contêm representações involuntárias que podem lançar luz sobre a mente desperta e sonhadora. Ele sugere que essas representações involuntárias, incluindo impulsos imorais, revelam uma faceta autêntica da psique humana, embora existam diferentes interpretações sobre a importância e a responsabilidade associadas a esses conteúdos oníricos.

tópicos: Freud – O sentido moral nos sonhos

Introdução ao Problema

  • Exploração do problema da moralidade nos sonhos.
  • Contradições entre diferentes autores sobre a função moral nos sonhos.

Perspectiva da Imoralidade nos Sonhos

  • Jessen (1855): A consciência moral se silencia nos sonhos; crimes cometidos com indiferença.
  • Radestock (1879): Associação de representações sem respeito ao julgamento moral; indiferença ética reina suprema.
  • Volkelt (1875): Procedimentos sexuais irrefreados nos sonhos; ausência de julgamento moral.

Perspectiva da Persistência da Moralidade nos Sonhos

  • Schopenhauer: A pessoa age em sonhos conforme seu caráter.
  • K.P. Fischer (1850): Sentimentos morais se revelam nos sonhos.
  • Haffner (1887): Pessoas virtuosas mantêm virtudes nos sonhos; pecadores encontram imagens familiares.
  • Scholz: Sonhos refletem a verdadeira natureza do indivíduo.
  • Pfaff (1868): Sonhos revelam o eu interior.
  • Hildebrandt: A pureza da vida se reflete na pureza dos sonhos.

Debate e Inconsistências nas Opiniões

  • Autores dos dois grupos mostram mudanças e incoerências.
  • Dificuldades em responsabilizar ou não os sonhadores por sonhos imorais.
  • Reconhecimento de uma origem psíquica específica para a imoralidade dos sonhos.

Tentativas de Explicação

  • Haffner (1887): Responsabilidade indireta pelos sonhos pecaminosos.
  • Hildebrandt: Análise das concessões dramáticas e temporais dos sonhos.
  • Spitta (1882): Consolação para o sonhador que vive virtuosamente em vigília.

Ideias Involuntárias e Psique

  • Benini (1898) e Volkelt (1875): Representações involuntárias em sonhos.
  • Schleiermacher: Adormecer acompanhado por “representações involuntárias”.

Implicações e Importância

  • Distinção entre impulsos morais e outros conteúdos oníricos.
  • Reflexões de Maury sobre sonhos e “automatisme psychologique”.
  • Stricker (1879): Sentimentos nos sonhos são reais; impacto na psicologia do estado desperto.

Conclusão

  • Consenso sobre a presença de representações involuntárias em sonhos.
  • Necessidade de mais investigação sobre a importância e responsabilidade dos impulsos imorais nos sonhos.

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