A histeria e o nascimento da psicanálise: uma leitura de Estudos sobre a Histeria: Em 1895, Sigmund Freud e Josef Breuer publicavam Estudos sobre a Histeria, um livro que não apenas inaugurava um método inovador para o tratamento de pacientes histéricos, mas também plantava as sementes do que viria a ser a psicanálise. Com uma série de casos clínicos e reflexões teóricas, essa obra não se limita a descrever sintomas e terapias, mas nos convida a uma imersão no psiquismo humano, revelando a força do inconsciente e da memória reprimida.
A descoberta do método catártico
A histeria era, no final do século XIX, uma das mais intrigantes e desafiadoras patologias da medicina. Pacientes apresentavam paralisias, convulsões, amnesias e outros sintomas físicos sem uma causa orgânica aparente. O que Freud e Breuer propuseram foi uma nova leitura desses fenômenos: eles não eram simplesmente disfunções do corpo, mas manifestações de experiências traumáticas que haviam sido recalcadas no inconsciente.
O caso de Anna O., tratado por Breuer, ilustra essa descoberta. A jovem sofria de uma série de sintomas incapacitantes que desapareciam quando ela narrava, sob hipnose, os eventos emocionais que os haviam provocado. Essa “cura pela fala”, que Breuer chamou de método catártico, mostrava que os sintomas histéricos eram uma forma de expressão de conflitos psíquicos reprimidos. A partir desse ponto, Freud avançaria ainda mais, percebendo que o fator determinante não era apenas o trauma, mas um processo de recalcamento, pelo qual certos conteúdos eram banidos da consciência.
A histeria como um fenômeno psíquico
Nos Estudos sobre a Histeria, Freud descreve vários casos em que os sintomas são analisados não como doenças físicas, mas como expressões de emoções reprimidas. Ao longo das sessões, os pacientes eram convidados a reviver as experiências traumáticas associadas aos sintomas. Essa abordagem permitiu a Freud entender que o inconsciente não apenas arquiva experiências dolorosas, mas também influencia diretamente a vida consciente, impondo sintomas e distorções psíquicas.
O livro também introduz conceitos que seriam fundamentais para a psicanálise: resistência, transferência e conversão histérica. A resistência aparece quando o paciente tem dificuldade em acessar memórias recalcadas, enquanto a transferência ocorre quando sentimentos inconscientes são projetados no terapeuta. A conversão histérica, por sua vez, é o mecanismo pelo qual uma emoção reprimida se expressa por meio de um sintoma físico.
O rompimento com Breuer e o nascimento da psicanálise
Embora Freud e Breuer tenham colaborado na redação do livro, suas divergências teóricas logo os afastariam. Breuer ainda via a histeria como resultado de estados hipnóides, enquanto Freud passou a enfatizar o papel da sexualidade e do recalcamento na formação dos sintomas. Esse desentendimento levou Freud a seguir um caminho independente, abandonando a hipnose e desenvolvendo o método da associação livre, onde o paciente falava livremente, sem direção ou sugestão, permitindo que o inconsciente emergisse de forma espontânea.
Foi a partir desses estudos iniciais que Freud desenvolveu toda a sua teoria do inconsciente, levando a uma compreensão revolucionária da mente humana e da psicopatologia. Estudos sobre a Histeria marca, portanto, não apenas uma mudança no entendimento da histeria, mas a fundação de uma nova disciplina que transformaria para sempre o modo como concebemos o sofrimento psíquico.
Considerações
Estudos sobre a Histeria permanece uma leitura fundamental para aqueles que desejam compreender as origens da psicanálise. Mais do que um tratado sobre histeria, é um convite a explorar a profundidade do inconsciente e suas manifestações na vida cotidiana. A obra de Freud e Breuer não apenas revelou os mecanismos psíquicos por trás da histeria, mas abriu caminho para a investigação sistemática do inconsciente, que até hoje continua a influenciar a clínica psicanalítica e a compreensão da subjetividade humana.
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por Leonid R. Bózio
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