Estrutura Neurótica: a neurose na psicanálise

A Neurose: Definição e Origem do Termo

O termo “neurose” deriva do grego “neuron” (nervo) e “osis” (condição doente ou anormal). Foi cunhado pelo médico escocês William Cullen em 1787 para descrever “desordens de sentidos e movimento” causadas por “efeitos gerais do sistema nervoso”. Na psicologia moderna, neurose é sinônimo de psiconeurose ou distúrbio neurótico, referindo-se a transtornos mentais que causam tensão mas não interferem com o pensamento racional ou a capacidade funcional da pessoa. Esta é uma distinção crucial em relação à psicose, uma desordem mais severa.

História da Neurose

Na época de Cullen, as doenças eram classificadas em um sistema semelhante ao de Lineu para as plantas, com dez classes principais. Cullen simplificou esse sistema para quatro classes: Pyrexiae (desordens febris), Neuroses (desordens dos nervos), Cachexiae (desordens gerais) e Locales (doenças locais). As categorias de Pyrexiae e Neuroses foram notáveis contribuições de Cullen.

Definição e Utilização do Termo

Neuroses são patologias psicogênicas, frequentemente ligadas a situações externas na vida do indivíduo, causando transtornos mentais, físicos e/ou da personalidade. De acordo com a visão psicanalítica, as neuroses resultam de tentativas ineficazes de lidar com conflitos e traumas inconscientes. A neurose distingue-se da normalidade pela intensidade do comportamento e pela incapacidade de resolver conflitos internos e externos de maneira satisfatória.

O conceito de neurose está intrinsecamente ligado à teoria nosológica psicanalítica, explicando a origem e desenvolvimento dos transtornos mentais. Psicólogos de outras escolas, especialmente da terapia cognitivo-comportamental, criticam o termo, pois não trabalham com conceitos psicanalíticos, tornando o diagnóstico de neurose impraticável para eles. Esta crítica levou à modificação dos sistemas de classificação de doenças, que abandonaram uma abordagem nosológica e adotaram uma descritiva. Na nona edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-9), havia uma categoria específica para “Neuroses”; já na décima edição (CID-10) em 1994, o termo passou a ser usado apenas descritivamente como “transtornos neuróticos”.

Segundo a CID-9, sob neurose entendem-se os seguintes grupos de transtornos mentais:

  • Transtornos fóbicos-ansiosos e outros transtornos de ansiedade
  • Transtorno obsessivo-compulsivo
  • Transtorno dissociativo (de conversão)
  • Transtornos somatoformes
  • Distimia e determinados tipos de depressão
  • Neurastenia

A atual classificação dos transtornos mentais, por ser descritiva, não captura completamente a complexidade desses transtornos, mas fornece uma base comum para o diálogo entre diferentes escolas de psicoterapia.

A Neurose na Perspectiva Psicanalítica

O Complexo de Édipo e a Amnésia Infantil

Na neurose, o Complexo de Édipo é “vítima de naufrágio”, resultando em uma amnésia histérica. O neurótico não se lembra dos eventos significativos da infância, um fenômeno conhecido como amnésia infantil. No entanto, os traços da estrutura edipiana emergem nos sintomas neuróticos, manifestando-se através de recalques dos componentes pulsionais da sexualidade.

Características da Neurose

A neurose se caracteriza por:

  • Instalação da função paterna: A presença simbólica da figura paterna.
  • Assimilação da estrutura da linguagem: O neurótico incorpora regras e normas linguísticas.
  • Primazia da dúvida: Uma dúvida constante sobre ações e decisões.
  • Inibição das pulsões: Tendência a inibir pulsões, ao contrário de ações impulsivas.

Predominância da Fantasia

O neurótico encontra mais prazer na fantasia do que no contato sexual direto, utilizando o mecanismo de recalque para manifestar o recalcado de forma simbólica em sintomas, atos falhos e sonhos.

Zona Genital e Incerteza

A neurose envolve a predominância da zona genital sobre outras zonas erógenas, resultando em incerteza sobre o que excita o indivíduo e dificuldade em buscar essa excitação, recusando ser a causa do gozo do Outro.

Subtipos de Neurose

A neurose se subdivide em histeria, neurose obsessiva e fobia.

Histeria: Caracterizada por sintomas de conversão e uma relação complexa com o desejo do Outro, buscando validação e amor através de sintomas corporais.

Neurose Obsessiva: Manifesta-se através de compulsão por competição e luta contra o desejo de transgressão, com obsessão por regras e legalidade.

Fobia: Envolve uma estratégia de respaldo do Nome-do-Pai, com dificuldade na separação entre criança e mãe, refletindo fraqueza na figura paterna.

Considerações:

A neurose é uma estrutura complexa, profundamente enraizada nos processos de recalque e nas dinâmicas internas do indivíduo. Compreender suas características e subtipos é crucial para uma abordagem eficaz na clínica psicanalítica.

por Leonid R. Bózio
Brasília, inverno de 2024 anno Domini

 

 

 

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