A Psicologia do Ego é uma das principais escolas da psicanálise, que surgiu na década de 1930 nos Estados Unidos. Essa abordagem foi desenvolvida por um grupo de psicanalistas europeus que, assim como muitos outros, fugiram da perseguição nazista e se estabeleceram nos EUA. Entre esses psicanalistas, destacam-se Heinz Hartmann, Ernst Kris, Rudolph Loewenstein e Erik Erikson, que, com suas contribuições, expandiram os últimos trabalhos de Sigmund Freud, dando origem à Psicologia do Ego.
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Origem e Desenvolvimento
A Psicologia do Ego tem suas raízes na estrutura tripartida da mente, elaborada por Freud, que divide a psique humana em id, ego e superego. Esses conceitos centrais da teoria freudiana serviram de base para que Hartmann e seus colegas desenvolvessem uma compreensão mais detalhada das funções do ego, particularmente no que diz respeito à adaptação do indivíduo às demandas internas e externas. A partir disso, a Psicologia do Ego se estabeleceu como uma abordagem que valoriza a capacidade do ego de gerenciar impulsos e interagir com a realidade de forma equilibrada.
Além de suas influências diretas de Freud, a Psicologia do Ego foi moldada pelo trabalho de Anna Freud, filha de Sigmund Freud, que dedicou sua carreira ao estudo das defesas do ego e à psicanálise infantil.
Contribuições de Margaret Mahler e Otto Kernberg
Um dos marcos mais significativos na Psicologia do Ego veio com os trabalhos de Margaret Mahler, que se concentrou no desenvolvimento infantil. Mahler identificou diversas fases cruciais no desenvolvimento emocional e mental da criança, como a fase de autismo normal, seguida pela simbiose normal e, finalmente, pela fase de individuação e separação. Esses estágios refletem a progressão do bebê de uma unidade simbiótica com a mãe para uma individuação plena, que culmina na consolidação do self e na capacidade de estabelecer constância objetal emocional.
Otto Kernberg, outro nome importante da psicanálise contemporânea, foi responsável por construir uma ponte entre a Psicologia do Ego e as Teorias das Relações Objetais. Ele é mais conhecido por seus estudos sobre personalidades narcisistas e borderline, oferecendo uma compreensão mais profunda dos distúrbios de identidade e suas raízes psíquicas.
Contribuições Centrais da Psicologia do Ego
A seguir, destacam-se as principais contribuições dessa escola de pensamento:
- Valorização das Funções do Ego: A Psicologia do Ego focou-se no estudo das funções mentais processadas pelo ego, como percepção, memória, afetos, pensamento e ação motora. Essa abordagem explora como o ego lida com as demandas do id e do superego, e como ele consegue administrar essas pressões de forma adaptativa.
- Integração com Outras Disciplinas: A Psicologia do Ego teve uma abordagem interdisciplinar, promovendo a integração com campos como a biologia, educação, antropologia e psicologia.
- Neutralização das Energias Pulsionais: Hartmann e seus colegas exploraram como o ego consegue neutralizar as energias pulsionais (sejam sexuais ou agressivas), contribuindo para um enfoque econômico da psicanálise, ou seja, como o ego administra e distribui essas energias de forma eficaz.
- Diferença Entre Ego e Self: Um dos avanços mais importantes foi a clara distinção entre ego e self, que antes estavam confusos. Hartmann definiu o ego como a instância psíquica responsável por funções como pensamento e memória, enquanto o self refere-se ao conjunto de representações que determinam o sentimento de identidade pessoal.
- Adaptação do Ego: A principal função do ego é promover uma adaptação eficaz às exigências pulsionais e à realidade externa. Esse conceito não deve ser confundido com conformismo ou submissão, mas sim com a capacidade de encontrar soluções equilibradas para os desafios internos e externos.
- Autonomia Primária e Secundária do Ego: Hartmann introduziu os conceitos de autonomia primária e secundária do ego, indicando que algumas das funções do ego são livres de conflitos, e que nem toda energia do ego é derivada do id – parte dela é autônoma.
- Regressão a Serviço do Ego: Ernst Kris, um dos colaboradores de Hartmann, apresentou a ideia de que a regressão, em certos contextos, pode ser benéfica e até criativa. Ele destacou como a regressão, quando a serviço do ego, permite o surgimento de novos insights e a criatividade artística.
- Dissociação do Ego como Processo Terapêutico: Ralph Sterba (1934) introduziu o conceito de dissociação do ego, que se refere à capacidade do paciente de se distanciar de certos aspectos de seu ego como parte do processo terapêutico.
- Observação Direta de Bebês e Crianças: A escola da Psicologia do Ego também incorporou a observação direta do desenvolvimento infantil, particularmente pelos estudos de René Spitz e Margaret Mahler. Essa abordagem prática forneceu uma base sólida para a teoria do desenvolvimento emocional e psíquico.
- Aliança Terapêutica: Edith Zetzel (1956) destacou a importância da aliança terapêutica, que se refere à colaboração e confiança mútua entre paciente e analista, fundamental para o sucesso do tratamento psicanalítico.
Críticas e Influência Contemporânea
A Psicologia do Ego, apesar de suas contribuições notáveis, foi criticada por alguns por seu enfoque mais pragmático e adaptativo, que, para os críticos, diminui o foco nas energias inconscientes e nas pulsões agressivas e sexuais que Freud tanto enfatizava. No entanto, sua influência continua viva, particularmente nos campos da psicologia do desenvolvimento, estudos sobre o narcisismo e nas técnicas psicoterapêuticas que buscam integrar as demandas internas do indivíduo com a realidade externa.
Considerações sobre a Psicologia do Ego
A Psicologia do Ego representa um desenvolvimento crucial dentro da psicanálise. Ao destacar as funções do ego, o papel da adaptação e o estudo das defesas psíquicas, essa escola trouxe uma nova visão sobre o funcionamento mental e emocional. De Hartmann a Mahler e Kernberg, os teóricos dessa corrente continuam a influenciar o campo da psicologia e da psicanálise, especialmente no que tange ao estudo da personalidade, do narcisismo e dos distúrbios borderline.
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Fonte: Manual de Técnica Psicanalítica: Uma Re-Visão por David E. Zimerman
por Leonid R. Bózio
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