As Sete Escolas da Psicanálise: Escola Francesa – Jacques Lacan

Escola Francesa de Psicanálise e a Influência de Jacques Lacan: A Escola Francesa de Psicanálise se destaca como uma das mais influentes correntes do pensamento psicanalítico moderno. Nascida de sucessivas dissidências e debates entre seus membros, essa escola floresceu, criando uma tradição intelectual robusta. Entre os nomes de maior destaque, Jacques Lacan é certamente a figura central. Ele não apenas influenciou profundamente seus contemporâneos, como também estabeleceu uma linha de pensamento psicanalítico única, voltada para uma nova leitura dos textos freudianos.

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Jacques Lacan: Biografia e Formação

Jacques Marie Émile Lacan nasceu em 1901, na França, e ao longo de sua vida tornou-se um dos teóricos mais polêmicos e influentes da psicanálise. Vindo de uma família de classe média, Lacan sempre demonstrou um brilho intelectual notável, especialmente nas áreas de filosofia e teologia. Sua trajetória acadêmica o levou ao estudo da medicina e, posteriormente, à psiquiatria, com um foco particular nas paranóias. Seu envolvimento com o movimento surrealista e figuras como Salvador Dalí e André Breton também ajudou a moldar suas ideias.

Lacan iniciou seu percurso na psicanálise apresentando uma tese sobre a psicose paranóica em 1933, que logo se tornaria um marco em seu pensamento. Porém, foi a partir da década de 1950 que seu nome começou a ressoar mais fortemente, quando ele propôs um “retorno a Freud”, questionando o rumo da psicanálise americana, que, segundo ele, estava distorcendo os fundamentos freudianos.

A Revolução Lacaniana na Psicanálise

Lacan realizou profundas revisões nas teorias freudianas, sempre afirmando lealdade a Freud, mas reinterpretando suas ideias de maneira radical. Ele foi um dos principais responsáveis por introduzir o estruturalismo na psicanálise, influenciado pelo linguista Ferdinand de Saussure e pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss. Lacan via a linguagem como o principal meio de organização do inconsciente, afirmando que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”.

Essa visão levou à formulação de conceitos cruciais em sua teoria, como o famoso “estádio do espelho”, a importância do registro simbólico, a noção de desejo e a centralidade do Outro na formação da subjetividade. Lacan também se destacou por sua originalidade ao discutir temas como o narcisismo, o complexo de Édipo e a castração, sempre através de uma lente que explorava o desejo humano em suas dimensões imaginárias, simbólicas e reais.

Estádio do Espelho e o Narcisismo

Um dos trabalhos mais influentes de Lacan foi sua teoria do “estádio do espelho”, apresentada pela primeira vez em 1936. Para Lacan, entre os 6 e 18 meses de idade, a criança se reconhece no espelho pela primeira vez, o que provoca uma divisão entre o corpo fragmentado e a imagem idealizada de totalidade. Essa experiência tem um papel crucial na formação do ego e é um momento-chave no desenvolvimento do narcisismo.

A criança, ao ver sua imagem refletida, experimenta um sentimento de plenitude, mas também de alienação, pois a imagem no espelho é uma antecipação daquilo que ela ainda não é. Essa alienação, segundo Lacan, continua a moldar a relação do sujeito consigo mesmo e com os outros ao longo da vida.

A Linguagem e o Inconsciente

Para Lacan, a linguagem desempenha um papel estruturante no funcionamento psíquico. Ele foi pioneiro ao afirmar que o inconsciente funciona como uma linguagem, na qual os significantes (palavras) se ligam uns aos outros em cadeias que formam o tecido do desejo e da identidade do sujeito. A partir dessa perspectiva, Lacan revisita as teorias freudianas do sonho, das fantasias e dos sintomas, sugerindo que todos esses elementos podem ser vistos como textos a serem lidos e interpretados.

Ao enfatizar o poder da linguagem, Lacan também propõe que o desejo é sempre o desejo do Outro, isto é, o sujeito é constantemente moldado pelo desejo daqueles ao seu redor, particularmente pelos pais nos primeiros anos de vida. Esse jogo de identificações e desejos é uma das razões pelas quais o psicanalista francês insistia na importância da análise do discurso do paciente.

A Influência de Lacan na Psicanálise Contemporânea

Lacan criou sua própria escola, a “Escola Freudiana de Paris”, em 1964, que rapidamente ganhou destaque internacional. Contudo, sua tendência ao conflito e à dissidência também marcou sua trajetória, levando a diversas divisões dentro de sua escola, o que culminou em sua dissolução pouco antes de sua morte, em 1981. Apesar dessas rupturas, o legado de Lacan permanece vivo, influenciando diversas escolas de psicanálise e intelectuais ao redor do mundo.

Considerações

A contribuição de Jacques Lacan para a psicanálise foi profunda e multifacetada. Sua abordagem estruturalista, centrada na linguagem, no desejo e no Outro, trouxe novos caminhos para a interpretação do inconsciente e para a prática clínica. Apesar de controverso, Lacan redefiniu os fundamentos da psicanálise e continua a ser uma figura central no pensamento psicanalítico moderno.

A Escola Francesa de Psicanálise, com Lacan à frente, permanece uma força intelectual vibrante, sempre desafiando e revisando suas próprias bases, em um movimento contínuo de expansão e inovação dentro da psicanálise global.

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Fonte: Manual de Técnica Psicanalítica: Uma Re-Visão por David E. Zimerman

 

por Leonid R. Bózio
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