As Sete Escolas da Psicanálise: Escola dos Teóricos das Relações Objetais – Melanie Klein

A psicanálise evoluiu de diversas maneiras, com contribuições de vários pensadores que deram enfoques específicos ao campo. Um dos enfoques mais influentes foi o das relações objetais, que se refere à maneira como os indivíduos internalizam suas interações com os outros. Embora figuras como Ronald Fairbairn e Melanie Klein tenham sido pioneiros nesta vertente, o foco deste artigo será em Klein, cuja obra teve grande impacto, especialmente na América do Sul.

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Melanie Klein: Trajetória e Contribuições

Biografia
Melanie Klein nasceu em Viena, em 1882, numa família de poucas posses. Seu pai era médico e judeu ortodoxo, e sua mãe era uma mulher empreendedora e resiliente. A vida de Klein foi marcada por grandes perdas, como a morte de sua irmã Sidonie, ainda na infância, e de seu irmão Emmanuel, aos 25 anos. Essas perdas, somadas a outros eventos traumáticos, moldaram sua sensibilidade para a dor emocional e a psicodinâmica do sofrimento humano. Klein casou-se com Artur Klein e teve três filhos, mas o casamento terminou em separação. Além disso, enfrentou a tragédia da morte de seu filho Hans em um acidente e a ruptura com sua filha, Mellita.

Primeiros Contatos com a Psicanálise
Melanie Klein foi introduzida à psicanálise por meio dos escritos de Sigmund Freud, cujo trabalho a fascinou profundamente. Embora nunca tenha tido contato direto com Freud, ela iniciou sua análise com Sándor Ferenczi em Budapeste. Sua carreira começou em 1916, com a psicanálise de crianças. Em 1919, foi nomeada membro da Sociedade Psicanalítica da Hungria, após escrever um estudo sobre o desenvolvimento de uma criança. Em 1920, mudou-se para Berlim, onde trabalhou com Karl Abraham, que influenciou muito seu trabalho. Em 1925, Klein se estabeleceu em Londres, após ser convidada por Ernest Jones para dar conferências. Sua abordagem inovadora conquistou a admiração de muitos psicanalistas britânicos, e ela se tornou uma figura central no desenvolvimento de uma nova escola de psicanálise.

Principais Obras de Melanie Klein

Klein produziu uma vasta quantidade de textos, dos quais alguns merecem destaque:

  • “Os Princípios Psicológicos da Análise Infantil” (1926): Introduziu a técnica de análise infantil por meio do uso de brinquedos, com uma analogia entre o brincar e o sonho, onde as crianças expressavam simbolicamente suas fantasias inconscientes.
  • “Notas sobre a Formação de Símbolos” (1930): Estudo sobre a capacidade simbólica das crianças, com base na análise do paciente Dick, que apresentava graves transtornos de aprendizado.
  • “Psicanálise das Crianças” (1932): Reunião de seus casos clínicos com crianças, oferecendo uma síntese do seu trabalho até então.
  • “Psicogênese dos Estados Maníaco-Depressivos” (1934): Introduziu o conceito de “posição depressiva”.
  • “Notas sobre Alguns Mecanismos Esquizóides” (1946): Apresentou a concepção das “posições esquizoparanóide” e o fenômeno da “identificação projetiva”.

Outros livros importantes incluem “Contribuições à Psicanálise” (1948), “Desenvolvimentos em Psicanálise” (1952), e “Inveja e Gratidão” (1957).

As Contribuições Inovadoras de Melanie Klein

Melanie Klein foi pioneira em diversos conceitos que ainda hoje são fundamentais na teoria e prática psicanalítica:

  1. Técnica de análise infantil: Através do uso de brinquedos, Klein revolucionou a psicanálise de crianças.
  2. Ego rudimentar: Postulou a existência de um ego inato, já presente no recém-nascido.
  3. Pulsão de morte inata: Para Klein, essa pulsão se manifestava desde o início da vida, sob a forma de ataques invejosos e destrutivos contra o seio materno.
  4. Defesas primitivas: O ego utiliza mecanismos como “identificação projetiva” e “idealização” para lidar com angústias arcaicas.
  5. Posições esquizoparanóide e depressiva: Klein descreveu essas duas posições que representam diferentes modos de funcionamento psíquico.
  6. Objeto parcial: Klein introduziu a ideia de que o bebê não relaciona-se apenas com “objetos totais” (como a mãe inteira), mas com “objetos parciais” (como o seio ou pênis).

Críticas à Obra de Melanie Klein

Embora suas contribuições tenham sido amplamente aceitas, Klein também foi alvo de críticas, especialmente dos psicanalistas da Psicologia do Ego, que rejeitavam algumas de suas concepções:

  • Pulsão de morte: Muitos analistas discordam da ideia de uma pulsão de morte inata.
  • Inveja primária: A concepção de que o recém-nascido já experimenta inveja destrutiva foi vista como controversa.
  • Complexo de Édipo precoce: A antecipação do complexo de Édipo para fases muito precoces do desenvolvimento foi rejeitada por alguns analistas, que argumentavam que este fenômeno só ocorre em fases mais tardias.

Considerações

Melanie Klein foi uma figura essencial no desenvolvimento da psicanálise, oferecendo novos caminhos para entender a mente humana, especialmente na infância. Suas teorias influenciaram profundamente o tratamento de crianças e pacientes psicóticos, além de enriquecer o campo com conceitos como a identificação projetiva e as posições esquizoparanóide e depressiva. Apesar das críticas, seu legado permanece vital no pensamento psicanalítico contemporâneo.

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Fonte: Manual de Técnica Psicanalítica: Uma Re-Visão por David E. Zimerman

 

por Leonid R. Bózio
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