A História da Minha Vida: quando o Eu fala em silêncio

A História da Minha Vida: Escuta psicanalítica a partir da canção “Story of My Life”, da banda One Direction

1. O Grupo e a Travessia: A História da Minha Vida

No próximo encontro do nosso Grupo de Terapia, propomos um gesto delicado e, ao mesmo tempo, profundamente desestabilizador: narrar a própria vida. Mas não como quem apresenta um currículo; não como quem resume datas e conquistas. Convidamos cada qual a escutar, em si, aquilo que ainda pulsa — ou que ficou congelado — na sua história.

Como apoio simbólico para essa travessia, escolhemos a música Story of My Life, da banda One Direction. A canção, longe de um relato objetivo, se oferece como paisagem emocional: imagens que evocam ausências, amores que resistem no tempo, fragmentos que insistem em permanecer. Assim também é o inconsciente: ele não conta a história de forma linear, mas retorna por lampejos, repetições, lapsos e silêncios. Sobre a terapia em grupo: Dias e Horários.

2. O Inconsciente e as Imagens

“Written on these walls are the colors that I can’t change” — está escrito nas paredes aquilo que não posso mudar. A letra já nos oferece, de início, um retrato do inconsciente freudiano: uma inscrição psíquica que nos antecede, uma marca que não se desfaz com a vontade.

Em termos freudianos, poderíamos dizer que estas “paredes” simbolizam o corpo e a linguagem. O sujeito se reconhece atravessado por memórias e inscrições que não escolheu, mas que o constituem. A casa mencionada na canção torna-se, então, um espaço de imagens primordiais: fotografias internas, cenas que voltam sem serem chamadas, desejos que não cessam com o tempo.

3. Repetição e Luto

“Story of my life, I take her home / I drive all night to keep her warm and time is frozen.” Aqui, o tempo congela — e essa paralisação não é apenas poética: é clínica. A repetição, como Freud aponta, não é lembrança. Ela é retorno do recalcado: algo que não pôde ser simbolizado retorna como compulsão.

O sujeito da música carrega alguém que não consegue abandonar: uma figura interna, um amor antigo, uma dor não elaborada. O esforço de mantê-la aquecida é, talvez, uma tentativa de não perdê-la — ou de evitar o luto. Mas o tempo, congelado, indica que há algo que não pôde seguir.

Quantas de nossas escolhas se encontram aprisionadas nesse tipo de repetição? Quantos vínculos atuais são apenas atualizações de cenas antigas, vividas agora com novos nomes, mas com os mesmos afetos?

4. O Eu e Suas Ruínas

“I leave my heart open, but it stays right here in its cage.” Abrir o coração e, ainda assim, mantê-lo preso: eis a ambiguidade estrutural do Eu. Freud já nos alertava que o “eu não é senhor em sua própria casa”; há forças inconscientes que nos habitam e que, muitas vezes, sabotam o nosso desejo.

A “gaiola” mencionada na canção pode ser lida como imagem simbólica do supereu — essa instância que vigia, julga e, não raro, pune. Quando abrimos a boca para falar de nossa vida, é essa censura que sentimos: o medo de sermos julgadas, o receio de sentirmos vergonha, o impulso de mentir para continuar pertencendo.

Mas no grupo, a escuta se oferece sem julgamento. Cada história pode encontrar, na fala, um espaço de elaboração. E é quando nos autorizamos a falar o que nunca foi dito que algo novo se inscreve: uma história não mais congelada, mas em movimento.

5. Perguntas para o Grupo: um convite à escuta

Durante o encontro, sugerimos que cada mulher escute a si mesma a partir das questões que emergem da canção:

  • Qual é a cena da minha história que mais se repete em diferentes relações?

  • Que imagem do passado permanece “congelada” dentro de mim?

  • Existe alguém ou algo que continuo tentando aquecer, mesmo já estando ausente?

  • Que partes da minha história eu conto com facilidade — e quais silêncios se impõem quando tento ir além?

  • Minha narrativa sobre mim mesma foi escrita por mim… ou por olhares que me atravessaram?

Essas perguntas não exigem respostas prontas. Elas são frestas: lugares por onde o desejo pode se anunciar.

Considerações – A História da Minha Vida

Contar a própria história não é organizar fatos; é escutar aquilo que, mesmo no silêncio, fala. Story of My Life da banda One Direction nos lembra que há dores que resistem, imagens que insistem e afetos que, por não terem sido nomeados, continuam a retornar. No grupo, o gesto de dizer é sempre político e poético: nele, o inconsciente ganha corpo, e o sofrimento pode encontrar sua palavra.

Por isso, no próximo sábado, convidamos cada qual a narrar, como puder, sua travessia: entre as ruínas, os afetos e os desejos. E que a história da sua vida, sob a ótica da psicanálise freudiana, possa enfim ser ouvida — não apenas por nós, mas por si mesma.

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por Leonid R. Bózio
Brasília,  de 2025 anno Domini

 

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