Psicanálise: livre associação freudiana e outros autores

Livre Associação: Abordagem Freudiana

A técnica da livre associação desempenha um papel crucial na prática terapêutica e no estudo da mente, não focando apenas na evocação de memórias, mas principalmente nos conflitos mentais internos que as mantêm reprimidas nas profundezas da psique. O objetivo da livre associação é ajudar a revelar noções que o analisando desenvolveu de forma inconsciente, incluindo:

  • Transferência: a transferência involuntária de sentimentos de uma pessoa para outra;
  • Projeção: a atribuição de sentimentos ou motivos internos a outras pessoas ou situações externas;
  • Resistência: a manutenção de um bloqueio mental contra a lembrança ou aceitação de certos eventos ou ideias.

Esses conflitos psíquicos, muitas vezes não reconhecidos conscientemente pelo analisando, permanecem ocultos no subconsciente. A técnica da livre associação permite acessar esses conteúdos, sendo descrita como “a chave para representar o desejo reprimido e acessar a memória afetiva inconsciente” [1].

Livre Associação: Abordagem de Jung

Carl Jung e seus colegas de Zurique desenvolveram testes de associação inovadores que corroboraram as conclusões de Freud sobre o impacto dos fatores emocionais na memória. Publicados em 1906, esses testes mostraram como as emoções podem interferir no processo de lembrança. Como o próprio Freud reconheceu, “desta maneira, Bleuler e Jung construíram a primeira ponte entre a psicologia experimental e a psicanálise” [2].

Livre Associação: Ferenczi

Embora Freud tenha inicialmente considerado a livre associação uma técnica relativamente acessível para os pacientes, Sándor Ferenczi discordou. Ele cunhou o famoso aforismo: “O paciente não se cura com a livre associação, ele se cura quando pode, de fato, fazer livre associação” [3], ressaltando que a verdadeira cura acontece quando o analisando domina essa prática de forma autêntica.

Livre Associação: Lacan

Jacques Lacan retomou e expandiu a perspectiva de Freud, afirmando que “a livre associação é realmente um trabalho – tanto que alguns chegaram a dizer que ela exige um aprendizado, ao ponto de ver nesse aprendizado seu verdadeiro valor formativo” [4]. Para Lacan, a livre associação envolve um processo ativo de trabalho psíquico, não apenas um fluxo passivo de pensamentos.

Livre Associação no Século XX

No final do século XX, alguns psicanalistas passaram a não esperar que o processo de livre associação se estabelecesse logo no início da análise. Para alguns, o surgimento de uma verdadeira livre associação era considerado um sinal de que a análise poderia ser encerrada [5].

Com o tempo, outros psicólogos criaram testes inspirados na ideia de associação livre de Freud, como o famoso Teste de Rorschach (manchas de tinta) e o Teste de Percepção Temática (TAT), desenvolvido por Christina Morgan e Henry Murray na Universidade de Harvard [6]. Embora o Teste de Rorschach tenha sido alvo de críticas, o TAT ainda é utilizado, especialmente com crianças.

Robert Langs e o Resgate da Livre Associação

Robert Langs destacou a importância de retornar aos primeiros trabalhos de Freud, que priorizavam a livre associação e o insight genuíno, em vez de uma interpretação direta do terapeuta. Langs defendeu que o papel do psicoterapeuta não é decodificar, mas facilitar o processo de autodescoberta do analisando através da livre associação.

Veja também:

  1. Origens
  2. Características
  3. Abordagem freudiana e outros autores

Bibliografia

1. Jan Campbell, Psychoanalysis and the Time of Life
2. Ernest Jones, The Life and Works of Sigmund Freud
3. Freud, Introductory Lectures
4. Adam Phillips, On Flirtation
5. Jacques Lacan, Écrits: A Selection
6. Janet Malcolm
7. Kaplan, Robert; Saccuzzo, Dennis Psychological Testing

Fonte: Manual de Técnica Psicanalítica: Uma Re-Visão por David E. Zimerman

 

por Leonid R. Bózio
Brasília, pandemia de 2021 anno Domini

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