Cinema e Psicanálise: O filme O Estranho que Nós Amamos (The Beguiled) foi o segundo título escolhido pelo nosso grupo de cinema e psicanálise. Tanto na versão original quanto na adaptação de 2017, dirigida por Sofia Coppola, o filme explora nuances de desejo, poder e vulnerabilidade, proporcionando um campo de análise para conceitos psicanalíticos. Nesta ocasião, optamos pela versão de Coppola, que oferece uma leitura sutil e ao mesmo tempo perturbadora sobre a dinâmica psicológica e a tensão sexual entre os personagens.
No contexto de cinema e psicanálise, a narrativa de O Estranho que Nós Amamos se desenrola em torno de John McBurney, um soldado que, ao ser acolhido em um internato de mulheres durante a Guerra Civil Americana, utiliza a sedução para manipular cada uma das moradoras, assegurando sua posição. Essa relação de McBurney com as mulheres pode ser entendida como um estudo psicanalítico de transferência e contratransferência. Ele se adapta às vulnerabilidades e desejos de cada uma, tornando-se o objeto inconsciente de desejo ou aprovação que cada mulher projeta.
Obras Completas de Sigmund Freud – Conjunto de caixa, por Sigmund Freud
Para a psicanálise, essa busca externa por algo que preencha o desejo incompleto liga-se ao conceito lacaniano do “Outro”. McBurney reflete as carências de cada personagem, funcionando como um espelho para suas fantasias e desejos reprimidos, de forma semelhante à transferência que ocorre entre paciente e analista.
O isolamento da casa, uma espécie de “casulo feminino” protegido da guerra, representa um espaço psíquico onde recalques e repressões ganham vida. A chegada do “estranho” provoca um choque, trazendo à tona impulsos inconscientes que haviam sido suprimidos. Essa presença inquietante lembra a “invasão do inconsciente” – conteúdos reprimidos que ameaçam a estrutura do ego. A figura de McBurney, com seu comportamento sedutor e ao mesmo tempo manipulador, emerge como o lado obscuro e impulsivo que, em momentos de crise, transforma-se de salvador em ameaça.
Sofia Coppola, ao escolher uma abordagem mais sutil e menos agressiva, reinterpreta a trama, mostrando que as dinâmicas psicológicas entre McBurney e as mulheres, embora corteses, podem ser tão destrutivas quanto uma agressão direta. Esse paradoxo torna a adaptação de Coppola um excelente estudo de cinema e psicanálise, sugerindo que desejos reprimidos e jogos de poder inconscientes podem causar devastações silenciosas.
Quer participar totalmente online do nosso grupo de filmes e psicanálise? Leia atentamente e acorde com o nosso direcionamento e participe!
Cinema e Psicanálise: o Estranho que nós amamos – Ficha Técnica
- Gênero: Drama de guerra, suspense
- Direção: Sofia Coppola
- Produção: Roman Coppola, Sofia Coppola, Youree Henley
- Produção Executiva: Fred Roos
- Roteiro: Sofia Coppola, baseado no romance The Beguiled de Thomas P. Cullinan
- Elenco: Elle Fanning, Kirsten Dunst, Nicole Kidman, Colin Farrell, Angourie Rice, Addison Riecke
- Companhias Produtoras: American Zoetrope, FR Productions
- Distribuição: Focus Features
- Lançamento: Estados Unidos, 23 de junho de 2017; Brasil, 10 de agosto de 2017
- Idioma: Inglês
Essa análise demonstra como o encontro entre cinema e psicanálise abre portas para interpretações profundas sobre desejo, identidade e as dinâmicas inconscientes em jogo.
Agende sua sessão online! CLIQUE AQUI
por Leonid R. Bózio
Brasília, Dies Domini, primavera de 2024 anno Domini
Pingback: Cinema e Psicanálise: filmes que já assistimos! - Leonid R. Bózio psicanalista