Qual é a principal diferença entre Freud e Lacan? Embora a psicanálise freudiana tenha sido o ponto de partida, Lacan traz uma releitura que, ao mesmo tempo, reinterpreta e amplia os conceitos de Freud. Neste artigo, vamos mergulhar nas distinções fundamentais entre essas duas abordagens psicanalíticas, explorando conceitos-chave como o inconsciente, a transferência, a castração e o desejo. Continue lendo para entender como essas diferenças impactam a teoria e a prática clínica.
A Evolução da Psicanálise: De Freud a Lacan
Para entender a diferença entre Freud e Lacan, é importante destacar o desenvolvimento de suas teorias. Sigmund Freud criou a psicanálise como resultado de uma série de descobertas clínicas e contribuições de seus colaboradores, como Otto Rank e Melanie Klein. Jacques Lacan, por outro lado, propôs um “retorno a Freud”, trazendo uma nova leitura aos conceitos clássicos da psicanálise, adaptando-os ao contexto cultural e filosófico da França no século XX.
O Inconsciente: Freud vs. Lacan
Uma das principais diferenças entre Freud e Lacan é a definição do inconsciente. Para Freud, o inconsciente está estruturado em três níveis: consciente, pré-consciente e inconsciente, funcionando de forma análoga a um sistema neurológico que processa as percepções antes de se tornarem conscientes. Já Lacan descreve o inconsciente como algo “estruturado como uma linguagem”, enfatizando que ele se forma em relação ao “Outro”, e não como uma instância puramente interna.
Transferência: A Visão de Lacan
Outro ponto de diferença entre Freud e Lacan é a compreensão da transferência. Freud via a transferência como a repetição de relações parentais no contexto da análise. Lacan, por sua vez, propõe que a transferência ocorre em torno do “sujeito suposto saber”, ou seja, o paciente projeta no analista o papel de alguém que possui um conhecimento sobre o seu inconsciente, o que estimula o processo analítico.
Castração: Do Pai Real ao Pai Simbólico
Na teoria freudiana, a castração é centrada na figura do pai como o responsável pela lei e pela interdição. Para Lacan, a diferença entre Freud e Lacan está no fato de que a castração não está ligada ao pai real, mas sim à “Lei do Pai”, uma figura simbólica que regula o desejo e a subjetividade. Essa castração simbólica é essencial para a estruturação do sujeito, enquanto Freud foca na figura concreta do pai.
Desejo e Objeto: A Diferença Central
A relação com o desejo também reflete uma importante diferença entre Freud e Lacan. Freud entende o desejo como uma energia libidinal que busca um objeto para se satisfazer. Para Lacan, o desejo é sempre marcado pela falta, e o “objeto a” representa o que causa o desejo, nunca sendo plenamente alcançado. Esse conceito lacaniano redefine a busca do sujeito, destacando o desejo como uma força sempre insatisfeita.
Angústia: Abordagens Contrastantes
Freud e Lacan também divergem em suas definições de angústia. Freud inicialmente a via como um efeito da repressão, enquanto Lacan sugere que a angústia é uma resposta direta ao encontro com o objeto de desejo. Esse ponto de diferença entre Freud e Lacan enfatiza a complexidade de como cada um entende as emoções que movem o sujeito.
Formalização Teórica: Freud e Lacan
Freud formalizou seus conceitos através da metapsicologia, enquanto Lacan introduz uma maior complexidade ao recorrer à matemática e topologia. A diferença entre Freud e Lacan aqui se manifesta nas ferramentas usadas para explicar a psique humana, com Lacan introduzindo uma nova forma de formalização teórica.
O Sujeito: Freud e Lacan em Perspectiva
Freud concebe o psiquismo através de instâncias psíquicas, raramente usando o termo “sujeito”. Lacan, por outro lado, coloca o sujeito no centro de sua teoria, descrevendo-o como o “parlêtre” (falaser), destacando a linguagem como elemento essencial para a constituição do sujeito. Essa é mais uma diferença entre Freud e Lacan que reformula a compreensão do que é ser humano na psicanálise.
Consideração
As diferenças entre Freud e Lacan são substanciais e abrangem desde a definição do inconsciente até a compreensão do desejo e da castração. Embora Lacan tenha reinterpretado Freud, ele não o rejeitou, mas construiu uma nova abordagem que reflete os avanços no pensamento filosófico e linguístico do século XX. Essas duas abordagens continuam a influenciar profundamente a prática e o estudo da psicanálise até hoje.
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por Leonid R. Bózio
Brasília, outono de 2024 anno Domini