Serguei Constantinovitch Pankejeff: O Caso do Homem dos Lobos

Serguei Constantinovitch Pankejeff (1887-1979), mais conhecido como o “Homem dos Lobos”, é uma figura central nos anais da psicanálise freudiana. Seu caso foi um dos grandes tratamentos conduzidos por Sigmund Freud. A análise de Pankejeff tornou-se famosa devido à profundidade com que Freud investigou suas neuroses e à complexidade do sonho que lhe rendeu o apelido “Homem dos Lobos”. Este caso é amplamente estudado por diversas escolas psicanalíticas, representando um marco na história da psicanálise.

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O Início do Tratamento com Freud: o Homem dos Lobos

Pankejeff nasceu em uma família aristocrática russa no sul do país e foi criado em Odessa, uma cidade culturalmente rica. Aos 10 anos, ele começou a apresentar os primeiros sinais de uma neurose grave. A situação piorou com o suicídio de sua irmã, Anna, em 1905, e, dois anos depois, com o suicídio de seu pai. Essa sequência de tragédias familiares levou Pankejeff a uma profunda depressão, culminando em uma série de tratamentos psiquiátricos ineficazes. Apenas após consultar o jovem médico Leonid Droznes em Odessa, foi encaminhado para Freud, em Viena, em 1910.

Freud criticou o tratamento psiquiátrico que Pankejeff havia recebido até então, e a partir desse ponto, iniciou-se o famoso processo de análise. Essa análise foi marcada por uma série de manifestações transferenciais violentas e por uma relação quase amigável entre Freud e seu paciente, que resultou em uma longa sessão terapêutica que durou até 1914, quando a Primeira Guerra Mundial começou.

O Sonho dos Lobos e a Interpretação de Freud

O aspecto mais intrigante do caso de Pankejeff foi o sonho que ele teve aos quatro anos de idade, no qual via lobos brancos sentados em uma árvore. Este sonho tornou-se a peça central do trabalho de Freud, que o usou para explorar a infância do paciente e reconstruir sua neurose infantil. Para Freud, o sonho simbolizava uma cena primária, na qual Pankejeff, aos 18 meses de idade, teria testemunhado o coito de seus pais, o que teria gerado um trauma inconsciente.

Essa interpretação freudiana foi amplamente debatida e continua a ser discutida nos estudos psicanalíticos modernos. O simbolismo dos lobos, a associação com a sexualidade infantil e as complexas camadas de significados atribuídas por Freud ao sonho de Pankejeff tornaram este caso icônico.

A Vida Pós-Análise

Apesar do tratamento com Freud, Pankejeff não experimentou uma cura definitiva. Durante e após as duas guerras mundiais, ele continuou a apresentar sintomas de depressão e outros distúrbios psíquicos, o que o levou a buscar novos tratamentos com outros psicanalistas, incluindo Ruth Mack Brunswick e Kurt Eissler. Ele também foi assistido por Muriel Gardiner, que o ajudou a redigir suas memórias, publicadas em 1971.

Além disso, Pankejeff tornou-se uma figura de destaque dentro do movimento psicanalítico, sendo amplamente sustentado por ele ao longo de sua vida. Seu caso passou a ser visto como um exemplo do caráter “interminável” da análise freudiana.

O Legado do Homem dos Lobos

O caso de Serguei Constantinovitch Pankejeff é emblemático, não apenas por suas contribuições à teoria freudiana, mas também pelo seu impacto na prática da psicanálise. Ele representa a complexidade da mente humana e a dificuldade de alcançar uma cura completa através da psicanálise, algo que Freud admitiu ao lidar com a contínua fragilidade mental de seu paciente.

Hoje, o “Homem dos Lobos” permanece uma figura central nos estudos psicanalíticos e sua história continua a ser fonte de reflexão e análise por estudiosos e praticantes da psicanálise em todo o mundo.

Considerações

O caso de Serguei Pankejeff é um dos mais comentados na história da psicanálise, sendo referência para debates sobre a eficácia da psicanálise freudiana e suas limitações. A trajetória de Pankejeff, desde sua infância trágica até seus tratamentos com Freud e outros psicanalistas, ilustra os desafios de tratar neuroses profundas e complexas, revelando o impacto duradouro da psicanálise sobre a vida dos pacientes.

Fonte:

Dicionário de psicanálise por Michel Plon e Elisabeth Roudinesco
Obras completas volume 14: “O homem dos lobos” e outros textos por Sigmund Freud

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por Leonid R. Bózio
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