Homem dos Ratos: O Caso de Ernst Lanzer na Psicanálise de Freud

O caso do Homem dos Ratos é um dos mais emblemáticos e aprofundados estudos clínicos conduzidos por Sigmund Freud. Este caso, que envolve Ernst Lanzer, destaca-se pela sua complexidade e pela maneira como contribuiu significativamente para o entendimento das neuroses obsessivas. Neste artigo, exploraremos os detalhes desse estudo revolucionário, analisando sua importância histórica e o legado que deixou na teoria psicanalítica.

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Introdução ao Caso do Homem dos Ratos

O Homem dos Ratos, cujo nome verdadeiro era Ernst Lanzer (1878-1914), foi submetido a uma análise psicanalítica por Freud entre outubro de 1907 e julho de 1908. Considerado o segundo grande tratamento psicanalítico de Freud, após o caso de Dora (Ida Bauer), o estudo de Lanzer é frequentemente destacado como o mais elaborado e logicamente estruturado. Este caso não apenas aprofundou a compreensão de Freud sobre as neuroses obsessivas, mas também reforçou suas teorias sobre a transferência e a resistência no processo terapêutico.

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Quem Foi Ernst Lanzer?

Ernst Lanzer nasceu em Viena, em 1878, em uma família judia de classe média. Filho de Heinrich Lanzer e Rosa Saborsky, Ernst era o quarto de sete irmãos. Desde jovem, Lanzer demonstrou um forte desejo de desafiar as expectativas familiares, especialmente no que diz respeito a seu futuro matrimonial. Apaixonou-se por sua prima, Gisela Adler, uma mulher de recursos financeiros limitados, contrariando a vontade de seu pai, que preferia uma noiva mais abastada.

Após a morte de seu pai em 1898, Ernst seguiu carreira militar no exército imperial austríaco. Foi nesse período que suas obsessões começaram a se intensificar, manifestando comportamentos mórbidos e rituais de morte. Essas obsessões, juntamente com conflitos familiares e pessoais, culminaram em uma grave neurose obsessiva aos 27 anos, levando-o a buscar ajuda profissional.

Detalhes do Caso do Homem dos Ratos

A análise de Ernst Lanzer começou em outubro de 1907 e durou aproximadamente nove meses. Freud apresentou o caso em várias ocasiões, incluindo o primeiro congresso da International Psychoanalytical Association (IPA) em Salzburgo, em abril de 1908. O relato detalhado de Freud, registrado em suas memórias e em diversos textos, revela a profundidade e a complexidade da análise.

O Suplicio dos Ratos

Um dos eventos centrais na vida de Lanzer foi a história contada pelo capitão Nemeczek durante um exercício militar na Galícia. O suplicio descrito envolvia um prisioneiro sendo forçado a se despir e ajoelhar, com ratos sendo introduzidos em seu reto através de uma vasilha furada. Este episódio traumático marcou profundamente Lanzer, gerando obsessões relacionadas a ratos e dívidas não pagas, refletindo conflitos internos mais profundos.

Associação Livre e Transferência

Lanzer, durante as sessões de análise, envolveu-se no jogo da associação livre, uma técnica fundamental na psicanálise freudiana. Ele começou a evocar lembranças sexuais de sua infância, revelando conflitos não resolvidos com seu pai. Freud utilizou a técnica da transferência, onde o paciente projeta sentimentos sobre figuras significativas de sua vida no terapeuta, para explorar e interpretar essas obsessões.

A Técnica Psicanalítica de Freud no Caso de Lanzer

Freud abordou o tratamento de Lanzer com uma combinação de empatia e rigor analítico. Ao contrário de alguns outros casos, Freud não inventou cenas sexuais, mas incentivou Lanzer a confessar seus tormentos. Este método permitiu que Freud identificasse e interpretasse os símbolos e associações presentes nas obsessões de Lanzer.

Resistência e Conflito Interno

Durante a análise, Lanzer enfrentou resistências significativas, manifestando-se através de dificuldades em pronunciar certas palavras e insatisfações com o processo terapêutico. Freud interpretou essas resistências como manifestações do conflito interno de Lanzer, particularmente a relação ambivalente com seu pai. A análise revelou que os ratos simbolizavam a dívida e o dinheiro, refletindo tensões financeiras e emocionais herdadas do pai.

Considerações

Freud concluiu que as obsessões de Lanzer estavam profundamente enraizadas em conflitos familiares, especialmente relacionados ao complexo de Édipo. A figura do capitão Nemeczek, que infligiu o suplicio com ratos, assumiu o papel do pai autoritário na psique de Lanzer, simbolizando a punição e a vergonha associadas à sexualidade reprimida.

Impacto e Legado do Caso do Homem dos Ratos

O caso do Homem dos Ratos é frequentemente considerado a única terapia perfeitamente bem-sucedida de Freud, apesar da trágica morte de Lanzer durante a Primeira Guerra Mundial. Este caso solidificou a posição de Freud como pioneiro na compreensão das neuroses obsessivas e demonstrou a eficácia da psicanálise na resolução de conflitos internos complexos.

Contribuições para a Teoria Psicanalítica

  • Neurose Obsessiva: Freud refinou suas teorias sobre a neurose obsessiva, demonstrando como conflitos inconscientes podem se manifestar em obsessões e compulsões.
  • Transferência e Resistência: O caso de Lanzer aprofundou a compreensão de Freud sobre os mecanismos de transferência e resistência, fundamentais para a prática psicanalítica.
  • Complexo de Édipo: A análise reforçou a importância do complexo de Édipo na formação da psique e nas neuroses.

Influência de Pesquisadores Posteriores

Psicanalistas como Patrick Mahony e Jacques Lacan aprofundaram a análise do caso de Lanzer, destacando sua relevância como um mito individual da neurose obsessiva. Mahony comparou a relação de Freud com Lanzer a um drama onde amor e ódio paternos se entrelaçam, enquanto Lacan conferiu ao caso um estatuto mitológico, refletindo estruturas simbólicas universais.

Conclusão

O caso do Homem dos Ratos permanece como um marco na história da psicanálise, ilustrando a profundidade e a complexidade das análises freudianas. Através da jornada de Ernst Lanzer, Freud demonstrou a eficácia de suas técnicas na exploração e resolução de conflitos inconscientes, consolidando seu legado como pioneiro da psicanálise. Este estudo não apenas enriqueceu a teoria psicanalítica, mas também ofereceu insights duradouros sobre a natureza da mente humana e seus conflitos internos.

 

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por Leonid R. Bózio
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Referências

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