O Superego na Teoria Psicanalítica: a Consciência e os Valores Culturais

Na teoria psicanalítica freudiana, o conceito de superego desempenha um papel central na compreensão da formação da personalidade e dos conflitos internos dos indivíduos. Freud desenvolveu essa ideia para descrever o conjunto de regras e valores internalizados que guiam o comportamento, especialmente em relação às demandas sociais e culturais. Neste artigo, vamos explorar o que é o superego, como ele se desenvolve e sua função na psique humana.

O Que É o Superego?

O superego é uma das três principais estruturas da mente, ao lado do id e do ego, conforme proposto por Sigmund Freud. Enquanto o id está associado aos desejos e impulsos mais primitivos, buscando gratificação imediata, o superego atua como um agente regulador que visa à conformidade com as normas sociais. Ele surge a partir da internalização das regras e padrões culturais, em grande parte absorvidos dos pais, mas também de outras figuras de autoridade, como educadores e líderes religiosos.
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O superego, portanto, não é uma entidade inteiramente consciente, mas opera de forma significativa no inconsciente, moldando os valores morais, os ideais de ego e as metas espirituais do indivíduo. O que chamamos de “consciência” — aquele senso de certo e errado que nos impede de agir de acordo com nossos desejos mais imediatos — está fortemente relacionado com o funcionamento do superego.

Desenvolvimento do Superego

O superego começa a se formar na infância, especialmente durante o processo de resolução do complexo de Édipo, um conceito-chave da teoria freudiana. No caso dos meninos, por exemplo, Freud explora que o medo da castração, associado ao desejo de substituir o pai como objeto de afeto da mãe, levava à identificação com o pai. Esse processo de identificação é crucial para o desenvolvimento do superego, que acaba por reter os valores e normas que o pai representa.

No entanto, Freud destacou que o superego não é uma simples reprodução dos pais. Na verdade, o superego de uma criança é modelado pelo superego dos pais, perpetuando uma herança de valores e tradições que atravessa gerações. Por isso, o superego não apenas reflete normas contemporâneas, mas também carrega consigo julgamentos morais que resistem ao tempo, servindo como um veículo de tradições culturais.

A Função do Superego

O superego desempenha o papel de regulador moral, constantemente buscando a perfeição, não apenas critica as ações e pensamentos que considera inadequados, mas também serve como um ideal a ser alcançado. Freud observou que o superego pode ser extremamente severo, impondo padrões rígidos de comportamento. Quando essas normas são violadas, o indivíduo experimenta sentimentos de culpa e vergonha.

Além disso, o superego age como um contraponto ao id. Enquanto o id busca a gratificação imediata dos desejos, o superego reprime esses impulsos em nome de um comportamento socialmente aceitável. O resultado é o ego — a parte consciente da personalidade — frequentemente sendo pressionado por essas duas forças conflitantes: os desejos do id e as exigências morais do superego.

O Complexo de Édipo e o Superego

Um ponto central no desenvolvimento do superego é sua relação com o complexo de Édipo. Para Freud, no caso dos meninos, o medo da castração leva à repressão dos desejos edipianos e à identificação com o pai. Essa identificação é o que dá origem ao superego, que herda os valores e regras que o pai simboliza. Quanto mais intenso o complexo de Édipo, mais rigoroso será o domínio do superego sobre o ego.

Freud também sugeriu que a formação do superego nas meninas difere da dos meninos, devido à ausência do medo da castração. Ele foi criticado por esse aspecto de sua teoria, que sugere que o superego das mulheres seria menos rígido ou severo que o dos homens. No entanto, o próprio Freud revisou essa ideia posteriormente, afirmando que tanto homens quanto mulheres combinam características “masculinas” e “femininas”, e que a rigidez moral não é uma questão puramente de gênero.

Considerações

O superego é uma das partes complexas da psique humana. Ele representa a internalização das normas sociais, culturais e parentais, desempenhando um papel vital na regulação moral e na formação de nossa identidade. No entanto, também pode ser fonte de conflito interno, impondo padrões tão elevados que o indivíduo pode ser dominado por sentimentos de culpa e inadequação.

Compreender o superego é fundamental para aqueles que buscam entender como nossos valores e normas culturais moldam não apenas nossas ações, mas também nossos pensamentos mais profundos. A teoria freudiana, com todas as suas nuances e críticas, continua sendo uma  ferramenta para explorar a complexidade da mente humana e os desafios que enfrentamos ao equilibrar nossos desejos com as exigências da sociedade.
Fonte: Freud (1923-1925) – Obras completas volume 16: O Eu e o Id, “Autobiografia” e outros textos por Sigmund Freud

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por Leonid R. Bózio
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