A Psicologia do Self: A Teoria de Heinz Kohut: Heinz Kohut foi um psicanalista austríaco nascido em Viena em 1913, cuja obra influenciou a psicanálise contemporânea. Formado em medicina e especializado em neurologia, Kohut migrou para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, fugindo da perseguição nazista. Ele se estabeleceu em Chicago, onde se tornou uma das figuras centrais do Instituto Psicanalítico local, dedicando-se à psicanálise até sua morte em 1981. Sua principal contribuição foi a fundação da Escola da Psicologia do Self, um marco no campo psicanalítico que desafiou e complementou as ideias clássicas de Freud.
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A Evolução da Obra de Kohut
Inicialmente, Kohut foi influenciado pela teoria do ego de Heinz Hartmann, mas, com o tempo, ele se distanciou tanto dos postulados de Hartmann quanto de muitos dos princípios básicos de Freud. O resultado foi o desenvolvimento de uma nova abordagem, que colocava o conceito de self no centro da análise. A psicologia do self surgiu como uma resposta às limitações que Kohut identificou na teoria psicanalítica tradicional, particularmente no que dizia respeito à compreensão do narcisismo e à dinâmica da identidade do indivíduo.
Aspectos Centrais da Psicologia do Self
Kohut propôs várias inovações teóricas e técnicas em sua psicologia do self, as quais moldaram seu legado:
- Introspecção e Empatia: Kohut destacou a importância da empatia como um instrumento central no processo psicanalítico. Ao contrário da ênfase freudiana na livre associação, ele acreditava que a capacidade do analista de compreender e se identificar emocionalmente com o paciente era essencial para o sucesso da análise.
- Homem Trágico versus Homem Culpado: Diferente de Freud, que via o ser humano como “culpado” devido ao complexo de Édipo e às repressões inconscientes, Kohut argumentava que o sofrimento psíquico se originava das falhas nos relacionamentos com os objetos primários (geralmente os pais), dando origem ao que ele chamou de “homem trágico”.
- Internalização Transmutadora: Um dos conceitos-chave na obra de Kohut é o processo de internalização transmutadora, no qual o paciente internaliza a figura do analista como um modelo de função psicanalítica, particularmente em casos onde as falhas empáticas dos pais não permitiram identificações adequadas.
- Estruturação do Self e Transtornos de Identidade: Kohut observou que muitos transtornos de identidade derivam de dificuldades na formação do self durante a infância. A incapacidade de internalizar figuras parentais adequadas, segundo ele, pode resultar em um self fragmentado e vulnerável.
- Self e Narcisismo: Dois dos conceitos centrais na psicologia do self são os estudos sobre o narcisismo e o self. Kohut via o narcisismo como um componente natural e estruturante do desenvolvimento humano, distinto da libido objetal. Ele propôs que, em vez de ser visto como necessariamente patológico, o narcisismo poderia evoluir positivamente para empatia, sabedoria e aceitação da finitude humana.
- Transferências Narcisistas: Na prática clínica, Kohut identificou modalidades transferenciais características de pacientes com transtornos narcisistas, como a transferência fusional, gemelar e especular, cada uma representando uma forma diferente de relação do paciente com o analista, baseado em sua necessidade de ser validado e compreendido.
- Fúria Narcisista e Frustração Ótima: Kohut reconheceu que muitos pacientes com transtornos narcisistas são extremamente sensíveis à frustração, o que pode desencadear uma “fúria narcisista”. Ele sugeriu que o analista deve aplicar uma “frustração ótima”, na qual o paciente é suavemente confrontado com a realidade sem causar retraumatização.
Críticas à Psicologia do Self
Embora a psicologia do self de Kohut tenha sido amplamente influente, ela também recebeu críticas. Um dos pontos de controvérsia é que Kohut expandiu o alcance de sua teoria para explicar praticamente toda a psicanálise, o que levou alguns críticos a argumentarem que isso resultou em uma “mutilação” conceitual. Eles apontam que, em sua obra, os conceitos de pulsão, como a agressão destrutiva, e o complexo de Édipo são minimizados. Além disso, o papel do inconsciente, tão fundamental para Freud, parece secundarizado.
Contribuição Duradoura de Kohut
Apesar das críticas, as contribuições de Kohut à psicanálise, especialmente no que diz respeito à compreensão do narcisismo e da estruturação do self, continuam sendo extremamente valiosas. Seus livros mais importantes, A Análise do Self (1971) e A Restauração do Self (1977), são marcos da ruptura com a psicanálise clássica e a fundação de uma nova forma de entender a mente humana.
A psicologia do self não apenas abriu novos caminhos para o tratamento de transtornos narcisistas, mas também ofereceu uma lente alternativa para entender o desenvolvimento humano e os relacionamentos interpessoais. É uma abordagem que continua a influenciar a prática clínica e o pensamento psicanalítico contemporâneo.
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Fonte: Manual de Técnica Psicanalítica: Uma Re-Visão por David E. Zimerman
por Leonid R. Bózio
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